O conceito de verbo
auxiliar
Não há total uniformidade de critérios
linguísticos que determinem as fronteiras da auxiliaridade. A lista dos verbos
considerados auxiliares difere de gramática para gramática.
Um verbo
auxiliar é um verbo que perdeu o seu sentido pleno e reforçou as suas
marcas gramaticais. Quer isto dizer que ele não possui significado lexical,
transportando apenas as desinências verbais. Esse significado lexical é-nos
dado, então, pelo verbo principal, que forma, com o verbo auxiliar, um complexo
verbal. Há vários tipos de verbos auxiliares:
1. Verbos auxiliares dos tempos
compostos. São os verbos ter e haver seguidos
do verbo principal no particípio passado:
O João tem lido
jornais todos os dias.
Tinha comprado um gelado.
Já então havia
concluído todas as obras.
2. Verbos auxiliares modais. São os verbos poder,
dever e ter de, seguidos do verbo principal no modo
infinitivo:
O
João pode sair mais cedo.
“dever”
- tem valor de epistémico de probabilidade
(“A equipa deve ganhar.”) ou deôntico de obrigação (“Todos devem comparecer.”)
“poder”
– pode ter valor epistémico de possibilidade
(“Até pode chover todo o dia.”) ou deôntico
de permissão (“Podes concluir, quando quiseres”.)
“ter de” – tem valor deôntico de obrigação (“Temos de
cumprir o horário.”)
3. Verbos auxiliares aspetuais. São os verbos estar a, ficar
a, andar a, continuar a, ir a, vir a, começar a, acabar de, deixar
de, que formam com o verbo principal um complexo verbal com valor
aspectual. Em muitos casos, o português europeu usa o modo infinitivo, ao passo
que o português Brasil usa o gerúndio:
O João está a ler/lendo.
- durativo e imperfetivo
Ela vai a (vem
a) conversar com um colega. - durativo e
imperfetivo
Fica a ( anda a ou continua a) estudar. -
durativo e imperfetivo
Acabamos de (deixamos de) pagar o
empréstimo. – perfetivo ( e pontual)
4. Verbos auxiliares temporais. São os verbos ir e haver
de, que formam com o verbo principal um complexo verbal com valor de
futuro:
O João vai sair
mais cedo.
Ainda havereis
de entender o que vos quero mostrar com este exemplo.
5. Verbo auxiliar da passiva. É o verbo ser seguido
do particípio passado do verbo principal:
O João foi castigado
pelo pai.
NOTA:
Há, no entanto, verbos que podem, num contexto, ser considerados verbos
plenos, e, noutro, verbos auxiliares. Observem-se os seguintes exemplos:
1. O João tem um
computador portátil. O João tem lido
jornais todos os dias.
Na frase (1), o verbo ter possui
um significado lexical; pode ser substituído por um sinónimo: «possuir». É,
portanto, um verbo pleno.
Na frase (2), por sua vez, o significado
lexical encontra-se no verbo ler (aqui sob a forma de particípio
passado). Não podemos, nesta frase, substituir o verbo ter por
«possuir»; trata-se, então, de um verbo auxiliar.
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