O mito Sebastianista
A
propósito da expedição de D. Sebastião a Alcácer-Quibir e do respetivo desastre
militar (1578), Fernando Pessoa escreveu:
“A
lenda significou, em primeiro lugar, o Regresso físico do Rei, supostamente
vivo; depois, a Ressurreição do Rei; mais tarde, o regresso daquilo que o Rei
simboliza.”
Na época
da publicação de Mensagem (1934), Portugal atravessava uma profunda crise em que
o mito sebastianista, como crença na
chegada de um salvador da pátria, continuava a justificar-se, como no tempo de
Bandarra e de Padre António Vieira.
É o
próprio Pessoa que esclarece: “Só há uma espécie de propaganda com que se pode
levantar o moral de uma nação – a construção ou a renovação e difusão de um
grande mito nacional. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes
profundas no passado e na alma portuguesa. Não temos de criar um mito, senão
que renová-lo.”
No
entanto, para o poeta, como agitador da nossa consciência coletiva, o Sebastianismo não significa a espera
resignada e apática da chegada do salvador “Encoberto”. Pelo contrário, é
necessário que cada um de nós assuma o mesmo sonho de D. Sebastião, a sua
loucura de querer “grandeza”, ou aspiração da sua utopia. Se o conseguirmos e concretizarmos
em pensamento e ação, pode realizar-se a nossa missão de hoje, “criar o
supra-Portugal de amanhã”.
Interessa,
por isso, não ser um mero cadáver adiado, mas o arquétipo do português
ambicioso que quer conquistar novas terras para engrandecer a Nação: “Levando a bordo El-Rei D.
Sebastião, / E erguendo como um nome, alto o pendão / Do Império”, lê-se em
«A Última Nau».
De
facto, ainda pelas palavras de Pessoa, “No sentido simbólico, D. Sebastião é
Portugal, que perdeu a sua grandeza com D. Sebastião e que só voltará a tê-la
com o regresso dele, regresso simbólico (…) mas em que não é absurdo confiar”. (304)
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