sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sebastianismo na Mensagem


O mito Sebastianista

            A propósito da expedição de D. Sebastião a Alcácer-Quibir e do respetivo desastre militar (1578), Fernando Pessoa escreveu:
            “A lenda significou, em primeiro lugar, o Regresso físico do Rei, supostamente vivo; depois, a Ressurreição do Rei; mais tarde, o regresso daquilo que o Rei simboliza.”
            Na época da publicação de Mensagem (1934), Portugal atravessava uma profunda crise em que o mito sebastianista, como crença na chegada de um salvador da pátria, continuava a justificar-se, como no tempo de Bandarra e de Padre António Vieira.
            É o próprio Pessoa que esclarece: “Só há uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação – a construção ou a renovação e difusão de um grande mito nacional. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Não temos de criar um mito, senão que renová-lo.”
            No entanto, para o poeta, como agitador da nossa consciência coletiva, o Sebastianismo não significa a espera resignada e apática da chegada do salvador “Encoberto”. Pelo contrário, é necessário que cada um de nós assuma o mesmo sonho de D. Sebastião, a sua loucura de querer “grandeza”, ou aspiração da sua utopia. Se o conseguirmos e concretizarmos em pensamento e ação, pode realizar-se a nossa missão de hoje, “criar o supra-Portugal de amanhã”.
            Interessa, por isso, não ser um mero cadáver adiado, mas o arquétipo do português ambicioso que quer conquistar novas terras para engrandecer a Nação: “Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo como um nome, alto o pendão / Do Império”, lê-se em «A Última Nau».

            De facto, ainda pelas palavras de Pessoa, “No sentido simbólico, D. Sebastião é Portugal, que perdeu a sua grandeza com D. Sebastião e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico (…) mas em que não é absurdo confiar”.                                  (304)

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