terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Simbologia dos números em Mensagem
Simbologia dos números em Mensagem
Maria Isabel Tavares Coelho, MENSAGENS DE MENSAGEM, de Fernando Pessoa, 2010
3. Três
O número três exprime uma ordem intelectual e espiritual, em Deus, no cosmo ou no homem. Junção do primeiro número ímpar, o número do Céu, com o 2, número da Terra. Para os cristãos, a perfeição da Unidade divina: Deus é Um em três pessoas. (…) O tempo é triplo: passado, presente e futuro.
Fazendo um estudo dos números que mais frequentemente surgem na obra Mensagem, facilmente se constata que o três é o número mais vezes repetido, aparecendo mais de trinta vezes, ao longo do poema.
Uma das ocorrências do número três, talvez aquela com mais significado, relaciona-se com a estrutura da obra, que apresenta uma divisão em três partes, pelo que este número parece funcionar como a pedra basilar de toda a obra.
A primeira parte, a que deu o nome de “Brasão” remete para as ideias de passado e de princípio, porque aquilo a que se assiste, na primeira parte da sua obra, é precisamente à fundação do grande reino português, recordando heróis que, no passado, foram importantes para que o Reino de Portugal surgisse, ou seja, são os pais fundadores da nacionalidade portuguesa.
Começando com Ulisses, vai referindo heróis que fizeram parte de momentos importantes, até chegar ao rei D. João II, ao Infante D. Henrique e a Afonso de Albuquerque, figuras que tiveram um contributo na conquista dos mares.
Esta primeira parte remete para o elemento Terra, já que maioritariamente os seus poemas falam de heróis que se destacaram no papel de fundadores e conquistadores de um espaço terrestre, que corresponderia ao território continental do Reino de Portugal, no continente europeu. Os heróis são os grandes guerreiros.
Na última subparte (O Timbre), da primeira parte (BRASÃO), o poeta avança três heróis que serão fundamentais para a segunda parte (MAR PORTUGUÊS). A subparte final da primeira parte prepara a entrada na segunda parte. Este mesmo método é utilizado no final da segunda parte, na qual os dois últimos poemas (“A Última Nau” e “Prece”) servem de uma espécie de introdução da terceira e última parte (O ENCOBERTO).
A segunda parte está associada à ideia de presente e de desenvolvimento. Com o Infante D. Henrique, Portugal parte para a aventura da conquista dos mares. Do elemento Terra, passa-se ao elemento Água.
Nesta parte, desfilam os heróis, que se notabilizaram no domínio dos mares e na construção de um império, que passou para lá das fronteiras da Europa, espalhando-se pelos vários continentes. Trata-se de um Portugal Além-Mar. Os heróis são os grandes navegadores.
Esta parte tem a epígrafe «Possessio maris» (Posse do mar).
A terceira parte remete para a ideia de futuro, associando-se ao anúncio do V Império. O que se pretende já não é a conquista da Terra, nem a conquista do Mar, mas a conquista do Céu, atendendo ao carácter particular deste último grande império da humanidade, que se fundamenta sobretudo no espírito.
Este é o único império que não tem bases materiais. A matéria é perecível; pode-se conquistar, dominar, possuir e destruir. O espírito é eterno; não se pode derrotar, aprisionar, nem destruir, apresentando maior durabilidade.
Esta parte tem a epígrafe «Pax in excelsis» (Paz nas alturas), o que está relacionado com a conquista de um império espiritual e, mais uma vez, se pode ligar
com a epígrafe da Parte I. Não é com guerras que este império será alcançado, mas sim com a paz, único meio capaz de conduzir a uma dimensão superior (alturas).
O número três, que já foi tratado no que diz respeito à estrutura tripartida da obra, é, provavelmente, o número mais vezes repetido, sendo usado em ocorrências diversificadas.
Ainda no que diz respeito à estrutura externa, há duas subpartes, que apresentam três poemas. São elas a quinta subparte (O Timbre), da primeira parte (BRASÃO) e a segunda subparte (Os Avisos), da terceira parte (O ENCOBERTO).
O número três também se observa em relação ao número de poemas que são constituídos por três estâncias, num total de dezoito poemas. Há apenas um poema composto exclusivamente por tercetos, que é o poema “D. Duarte, Rei de Portugal”.
Há a salientar a existência de estâncias com seis e nove versos, que são múltiplos de três. A este propósito, destaca-se o poema “O Mostrengo”, composto de três nonas (igual a três vezes três) e os seus versos são hexassílabos (têm seis sílabas métricas, que também um múltiplo de três – 6 = 3 +3, ou 3 x 2), mas onde o número três também é usado ao nível da estrutura interna do poema:
- O mostrengo fala três vezes;
- O homem do leme fala três vezes;
- A roda da nau voou três vezes;
- O mostrengo rodou três vezes;
- O homem do leme ergueu as mãos três vezes;
- O homem do leme repreendeu o leme três vezes;
- O homem do leme tremeu três vezes;
- O último verso de cada estrofe é repetido três vezes (Refrão “El-Rei D. João Segundo!”);
Há ainda a salientar o facto deste poema se situar a meio da obra, tendo antes vinte e um poemas e depois, vinte e dois poemas. Se no número vinte e um adicionarmos o número dois ao número um (21 ---» 2+1= 3), obtemos precisamente o número três, o que nos parece revestir-se de grande importância. O mostrengo está no meio do poema, simbolizando todos os obstáculos que os portugueses tiveram de enfrentar na sua conquista dos mares mas, como o povo costuma dizer, à terceira é de vez, isto é, o três
parece marcar o fim do domínio do mostrengo nos mares, que será dado aos portugueses.
As sucessivas repetições do número três, no poema “O Mostrengo” parecem marcar o final de um ciclo e o início de outro. Era certo que uma mudança na ordem das coisas fosse surgir: era inevitável que o mostrengo fosse derrotado e os portugueses prosseguissem a sua viagem rumo à Índia.
Curiosamente, este mostrengo não desaparece definitivamente da obra, como acontece em Os Lusíadas, de Luís de Camões. Ele regressa no penúltimo poema da obra (“Antemanhã”) para recordar ao povo português como ele já foi capaz de realizar grandes feitos e para o incentivar a repetir esses momentos de glória e, mais uma vez ele fala num terceiro mundo a ser desvendado pelo povo português:
Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?
5. Cinco, união e harmonia
O número 5 vai buscar o seu simbolismo ao facto de, por um lado, ser a soma do primeiro número
par e do primeiro número ímpar (2+3); e, por outro lado, ser o meio dos nove primeiros números. É sinal de
união, número nupcial, (…) número também do centro, da harmonia e do equilíbrio.
Será, portanto, o número das hierogamias (união sexual ou matrimonial entre seres divinos ou entre um ser humano e um ser divino), o casamento do princípio celeste (3) e do princípio terrestre da mãe (2).
É ainda o símbolo do homem (braços afastados, o homem aparece disposto em cinco partes em forma
de cruz: os dois braços, o tronco, o centro abrigo do coração, a cabeça, as duas pernas) Símbolo igualmente do
universo: dois eixos, um vertical e o outro horizontal, passando por um mesmo centro.
É símbolo da ordem e da perfeição; finalmente, símbolo da vontade divina que só pode desejar a ordem e a perfeição.
Representa também os cinco sentidos e as cinco formas sensíveis da matéria: a totalidade do mundo sensível.
O número cinco é usado em situações igualmente diferentes, aparecendo dez vezes e tendo, tal como o número três, uma importância vital na obra.
Há três subpartes, que são compostas por cinco poemas: a subparte III («As Quinas») da primeira parte (BRASÃO) e as subpartes I («Os Símbolos») e III («Os Tempos») da terceira parte (O ENCOBERTO).
O facto da subparte III («As Quinas») da primeira parte (BRASÃO) ser constituída por cinco poemas relaciona-se com o título da subparte, uma vez que as quinas são as cinco chagas de Cristo, sendo aqui apresentados cinco mártires da pátria portuguesa, curiosamente todos eles pertencentes à Dinastia de Avis. Estes mártires encontram-se distribuídos da seguinte maneira: dois reis nos extremos - D. Duarte e D.Sebastião - (1.º e 5.º poemas), um regente no meio – D. Pedro - (3.º poema) e dois infantes entre os reis e o regente – D. Fernando e D. João (2.º e 4.º poemas). Destes cinco mártires, apenas um (D. Pedro) não sofreu, nem morreu no norte de África, vítima da Guerra Santa.
Esta subparte surge na sequência da subparte anterior, que apresenta os sete castelos conquistados aos reis mouros.
Depois da conquista física, material, terrena, vem a conquista espiritual, que irá completar o ciclo, apresentando então a união do terreno, material, (castelos) com o espiritual, celestial (mártires), que conduz à perfeição.
Em relação à parte III (O ENCOBERTO), há duas subpartes que têm cinco poemas, a primeira e a última.
A primeira subparte explora cinco símbolos, que comprovam a vinda do Encoberto, estando eles numa determinada ordem:
começa-se por D. Sebastião, que encarna o mito do messianismo;
em segundo lugar, passa-se para o anúncio do V império;
em terceiro lugar, exprime-se o desejo da vinda de um salvador, de um novo Galaaz e a esperança de que, com ele, se concretize o V Império;
em quarto lugar, referem-se as ilhas onde repousará o rei do império anunciado e que apenas espera que chegue o tempo certo para se revelar e, em quinto lugar, fala-se do Encoberto.
O número cinco parece anunciar a vinda do Encoberto, que espera apenas a vontade divina para se dar a conhecer ao mundo, uma vez que ele pode simbolizar a perfeição e a união entre o princípio terrestre e o princípio celeste, o casamento entre a terra e o céu.
A terceira subparte apresenta igualmente cinco poemas, também estes numa determinada ordem.
7. Sete, conclusão e renovação
Resultando o número sete da soma de quatro (terra) com três (céu), este simboliza a totalidade do universo em movimento e é precisamente isto que se observa na obra Mensagem.
O número sete é muito pouco usado, surgindo apenas três vezes. O número sete está presente na segunda subparte («Os Castelos), da primeira parte (BRASÃO), que é composta por sete poemas. Na realidade, pode-se encontrar oito poemas, mas dois deles foram agrupados num só, como se fizessem parte de um só corpo. Trata-se dos poemas “D. João, o Primeiro” e “D. Filipa de Lencastre”, ambos
numerados com o sete, talvez por se tratar de marido e mulher.
Na segunda subparte da primeira parte de Mensagem o sete remete para a conquista dos sete castelos aos reis mouros e simboliza a conquista da terra, a fundação do reino de Portugal, no espaço europeu. É um ciclo que chegou ao fim, é uma obra que se conclui.
De acordo com a tradição cristã, Deus descansou ao sétimo dia, depois de ter criado o mundo. Este descanso não significa que já não há obra para se fazer, mas apenas que é necessário restaurar-se as forças para se voltar a produzir nova obra, ou seja, o destino do povo português não se esgotou. Há ainda muita obra a concretizar-se e um novo ciclo se iniciará.
Este novo ciclo poder-se-á adivinhar na terceira e última subparte, («Os Tempos») da terceira parte (O ENCOBERTO), onde se encontram dois poemas que são formados por estâncias de sete versos ( sétimas), sendo eles os poemas “Calma” (terceiro poema) e “Antemanhã” (quarto poema).
12. Doze, o universo
O doze é um número de eleição, o número do povo de Deus, do povo eleito, presente nas “doze tribos e Israel”, “doze potas de Jerusalém” e “doze discípulos de Cristo.” São doze os meses do ano, os signos do Zodíaco e os Cavaleiros da Távola Redonda.
O número doze representa a igreja triunfante, podendo considerar-se que este ciclo da história de Portugal que se concluiu implicou uma vitória da igreja, já que Portugal formou-se a partir da expulsão
dos Mouros, os infiéis, do seu território.
O número doze pode ainda simbolizar o universo complexo e numa evolução espaço-temporal cíclica. A conquista do espaço físico, que fechou um ciclo, dá lugar a um novo ciclo de conquistas, agora no mar.
O número doze está presente apenas duas vezes na obra, uma de maneira mais explícita, outra de um modo mais disfarçado.
Na primeira parte (BRASÃO), a subparte II («Os Castelos») apresenta sete poemas e a subparte III («As Quinas») tem cinco poemas.
Estes poemas somados dão o número doze. Estas duas subpartes parecem constituir um bloco, já que falam dos heróis que contribuíram para a conquista do território antes dos descobrimentos marítimos. Para além disso, “castelos” e “quinas” são dois elementos que se encontram representados no “brasão”.
O número doze poderá aqui simbolizar a realização de uma obra (construção do reino português; espaço físico/ terreno), o encerramento de um ciclo. É a primeira página da história de Portugal, que acabou de ser escrita.
O número doze representa a igreja triunfante, podendo considerar-se que este ciclo da história de Portugal que se concluiu implicou uma vitória da igreja, já que Portugal formou-se a partir da expulsão
dos Mouros, os infiéis, do seu território.
O número doze pode ainda simbolizar o universo complexo e numa evolução espaço-temporal cíclica. A conquista do espaço físico, que fechou um ciclo, dá lugar a um novo ciclo de conquistas, agora no mar.
A segunda parte da obra (MAR PORTUGUÊS) é a única que não se encontra subdividida, apresentando unidade, sendo constituída por doze poemas. Esta parte é dedicada à construção do grande império marítimo português, pelo que o número doze aponta, novamente, para a realização da obra e o encerramento de um ciclo.
A ideia de realização, de concretização de uma obra está, mais uma vez, implícita porque, que como é dito no primeiro poema desta parte, «O Infante»:
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
A parte inicial do verso (“Cumpriu-se o Mar”) fala, precisamente, dessa realização e a parte final (“e o Império se desfez”) já prepara o início de um novo ciclo, até porque o poema termina afirmando “Senhor, falta cumprir-se Portugal!”, numa referência clara a uma missão sagrada, divina, dependente da vontade de Deus (“Senhor”), que está subjacente ao destino do povo português (“falta cumprir-se
Portugal”).
O número doze, sob o ponto de vista cristão, é riquíssimo, estando associado à Jerusalém celeste; é o número do povo de Deus e da Igreja, pelo que se pode relacionar o verso final com uma predestinação do Povo Português (o povo eleito) para abrir um terceiro ciclo de conquistas portuguesas.
Regras de pontuação e acentuação
Regras dos Sinais de Pontuação (uso do ponto final e
da vírgula)
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Utiliza-se o ponto final para:
· Indicar uma pausa grande. Utiliza-se no final de uma
frase (seja esta composta por uma ou muitas palavras) e implica que a
informação que queríamos transmitir está completa;
O sol espreguiçou-se e escorregou para a linha do horizonte. Estava cansado.
· Indicar uma pausa muito grande, com uma ligeira
alteração de tópico ou propósito. Utiliza-se no final de um parágrafo; É
chamado de ponto final parágrafo.
· Marcar uma abreviatura, sendo chamado de ponto de
abreviatura;
Ex.mo Sr. – Excelentíssimo Senhor ; V. Ex.ª – Vossa Excelência
·
Distinguir a
contagem de pontos ou uma enumeração feita por números (ordinais ou
cardinais).
1.º (primeiro) ou 1. (Ponto número um.) |
|||||||||||||||||||||||||||||
Utiliza-se a vírgula
para:
· Indicar uma pausa curta, sendo fundamental para permitir
a respiração durante a leitura e garantir a organização fluente da mensagem a
transmitir oralmente. É usada para separar:
1. o vocativo;
Esqueces, meu filho, que eu também já fui novo.
2. o modificador
apositivo do nome;
D. Pedro I, o Justo, vingou a morte de D. Inês de Castro.
3. enumerações e repetições
de palavras, quando estas não são ligadas por conjunções;
Pardais, andorinhas, cegonhas e pintassilgos salpicavam os ares.
As crianças corriam, saltavam, gritavam
sem parar. (or. coordenadas assindéticas)
4. enumerações
e repetições de orações, quando estas não são ligadas por
conjunções;
As horas passavam, os alunos remexiam-se nas cadeiras, olhavam de soslaio para o relógio, suspiravam, voltavam ao trabalho e não havia meio de a aula chegar ao fim.
5. orações adjetivas
relativas explicativas;
Anabela, que adorava cozinha japonesa, sugeriu sushi como aperitivo.
6. orações
que surgem intercaladas por outras
orações, regra geral com o objetivo de explicar, podem ser separadas por
vírgulas ou por travessões;
Isso é impossível, ralhou a mãe, porque as tuas notas são muito baixas.
7. orações
subordinadas adverbiais que surgem
antes da subordinante;
Quando o carro estiver arranjado, iremos dar uma volta.
8. orações subordinadas introduzidas pela respetiva conjunção ou locução
conjuncional;
Iremos
passear, se estiver bom tempo, porque não queremos arriscar uma
constipação
9. orações
gerundivas, infinitivas e participiais,
ou expressões equivalentes ;
Anabela, sendo teimosa, conseguiu o que tanto queria. Terminada a tarefa, poderão descansar.
10. conjunções
e expressões conjuncionais com
funções adversativas;
No entanto, o sol continuava a brilhar como se fosse verão.
11. orações coordenadas
introduzidas por conjunções adversativas (mas) ou explicativas (pois);
Eles queriam, queriam mesmo acabar de plantar todo o jardim, mas a chuva caiu torrencialmente e tudo foi destruído. Estávamos desolados, pois o resultado foi bastante negativo.
12. os advérbios sim e não da frase que os
explica ou esclarece;
Não, o teu teste está uma lástima.
13. modificadores de grupo verbal ou de
frase que antecedem o sujeito, ou que funcionam como comentário;
À noite, todos os gatos são pardos. Infelizmente, nem tudo são rosas. Para ser franco, não posso concordar.
14. Expressões
com valor reformulativo ou explicativo (“ou seja”, “isto é”, …)
Ele infirmou,
ou seja, não confirmou a versão do colega.
15. O nome
do lugar, na indicação espaciotemporal.
Fafe, 15 de novembro de 2016
Erros mais
comuns (a evitar):
· A vírgula nunca separa o sujeito do verbo
(predicado);
O cachorrinho
·
A
vírgula nunca separa o verbo do complemento direto ou predicativo do sujeito;
A Márcia abanou
O jogo foi
Principais
regras de acentuação
a) O Governo é mau não ajuda os pobres.
b) O Sporting vai ganhar o
campeonato este ano não vai perder.
c) Comeu a sopa não comeu o bife. NB. Alterando a pontuação, modifica o sentido das frases.
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domingo, 12 de fevereiro de 2017
Verbos auxiliares
O conceito de verbo
auxiliar
Não há total uniformidade de critérios
linguísticos que determinem as fronteiras da auxiliaridade. A lista dos verbos
considerados auxiliares difere de gramática para gramática.
Um verbo
auxiliar é um verbo que perdeu o seu sentido pleno e reforçou as suas
marcas gramaticais. Quer isto dizer que ele não possui significado lexical,
transportando apenas as desinências verbais. Esse significado lexical é-nos
dado, então, pelo verbo principal, que forma, com o verbo auxiliar, um complexo
verbal. Há vários tipos de verbos auxiliares:
1. Verbos auxiliares dos tempos
compostos. São os verbos ter e haver seguidos
do verbo principal no particípio passado:
O João tem lido
jornais todos os dias.
Tinha comprado um gelado.
Já então havia
concluído todas as obras.
2. Verbos auxiliares modais. São os verbos poder,
dever e ter de, seguidos do verbo principal no modo
infinitivo:
O
João pode sair mais cedo.
“dever”
- tem valor de epistémico de probabilidade
(“A equipa deve ganhar.”) ou deôntico de obrigação (“Todos devem comparecer.”)
“poder”
– pode ter valor epistémico de possibilidade
(“Até pode chover todo o dia.”) ou deôntico
de permissão (“Podes concluir, quando quiseres”.)
“ter de” – tem valor deôntico de obrigação (“Temos de
cumprir o horário.”)
3. Verbos auxiliares aspetuais. São os verbos estar a, ficar
a, andar a, continuar a, ir a, vir a, começar a, acabar de, deixar
de, que formam com o verbo principal um complexo verbal com valor
aspectual. Em muitos casos, o português europeu usa o modo infinitivo, ao passo
que o português Brasil usa o gerúndio:
O João está a ler/lendo.
- durativo e imperfetivo
Ela vai a (vem
a) conversar com um colega. - durativo e
imperfetivo
Fica a ( anda a ou continua a) estudar. -
durativo e imperfetivo
Acabamos de (deixamos de) pagar o
empréstimo. – perfetivo ( e pontual)
4. Verbos auxiliares temporais. São os verbos ir e haver
de, que formam com o verbo principal um complexo verbal com valor de
futuro:
O João vai sair
mais cedo.
Ainda havereis
de entender o que vos quero mostrar com este exemplo.
5. Verbo auxiliar da passiva. É o verbo ser seguido
do particípio passado do verbo principal:
O João foi castigado
pelo pai.
NOTA:
Há, no entanto, verbos que podem, num contexto, ser considerados verbos
plenos, e, noutro, verbos auxiliares. Observem-se os seguintes exemplos:
1. O João tem um
computador portátil. O João tem lido
jornais todos os dias.
Na frase (1), o verbo ter possui
um significado lexical; pode ser substituído por um sinónimo: «possuir». É,
portanto, um verbo pleno.
Na frase (2), por sua vez, o significado
lexical encontra-se no verbo ler (aqui sob a forma de particípio
passado). Não podemos, nesta frase, substituir o verbo ter por
«possuir»; trata-se, então, de um verbo auxiliar.
Mitificação do herói n' "Os Lusíadas"
A mitificação do
herói n’ Os Lusíadas
Camões não escolheu um herói
individual, procurou antes que a sua epopeia enunciasse a história de todo um
povo. A intenção e exaltar os portugueses levou o poeta a torná-los verdadeiros
heróis que se foram construindo, ao longo da obra, e que mereceram a mitificação.
Trata-se
de um herói coletivo, que é constituído pelas "armas e barões
assinalados", pelos Reis, por "aqueles que por obras valerosas/Se vão da lei da morte libertando" e
pelos navegadores, que no seu conjunto formam "o peito ilustre
lusitano".
É
apresentado logo na Proposição (Canto I, est. 1-3), quando o
poeta menciona aqueles que se propõe cantar: "(. ..) o peito
ilustre Lusitano, / A quem Neptuno e Marte obedeceram." A figura
do herói épico nacional caracteriza-se, pois, pelos feitos
grandiosos, nunca antes realizados por humanos, que lhe permite a conquista da
imortalidade. Corresponde à ascensão dos homens à condição divina, como
acontecerá na Ilha dos Amores, e
também à superação dos heróis das epopeias antigas, porque não apresenta um
carácter lendário como acontecera nessas epopeias. Está integrado num fundo
histórico - a História de Portugal - que origina a narração épica. Daí a
afirmação do poeta: “Cesse tudo o que a
musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta”.
No Consílio dos
Deuses no Olimpo (Canto I, est. 19-41), o herói nacional é
enaltecido, sobretudo, através da oposição de Baco. Na realidade, o facto de um
deus temer que a sua glória seja destruída pelos humanos serve
inevitavelmente a construção do herói: "(...) O padre Baco ali não
consentia / (...) conhecendo / Que esquecerão seus feitos no Oriente / Se lá
passar a Lusitana gente". É o receio de Baco (que dirá mais tarde “Temo que deuses venham a ser e nós humanos”)
que engrandece a gente lusa, conferindo-lhe um estatuto que culminará com a
superação da própria condição humana de "bicho da terra tão
pequeno”, frágil e impotente perante as forças cósmicas.
Para que este herói
se fosse construindo, vários elementos foram fundamentais, tais como: a inteligência,
pois os portugueses fizeram grande parte da viagem contrariando a oposição dos
deuses; a coragem e a valentia, que demonstraram perante as ciladas de Baco e
perante o Gigante Adamastor, símbolo do perigo e do inultrapassável.
O discurso
do Adamastor funciona como um
elogio supremo aos nautas lusos, pois, simbolicamente, este representa o Cabo
das Tormentas, que os portugueses conseguiram dobrar, mostrando a vitória dos
humanos sobre a natureza. Até o episódio do Velho do Restelo, anunciando
vários perigos, mortes, tormentas e outros desastres, contribui para a
glorificação desse herói, que supera todos estes obstáculos.
Depois
de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha
dos Amores. É o local concebido pelo épico, simbolizando a recompensa pela
heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia no Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e
se tornam deuses, como se verifica quando as Ninfas se entregam aos
navegadores, que alcançam assim a glória. Sobretudo Vasco da Gama, a quem é
mostrada a “máquina do mundo”, símbolo do conhecimento máximo permitido ao
Homem. Assistimos aqui à realização daquilo que constitui
a essência da epopeia: o poeta torna imortais os feitos do herói nacional,
elevando os nautas, que representam o povo português, à condição de deuses,
pois Vénus "Os Deuses faz descer ao vil terreno / E os humanos subir
ao Céu sereno". Os marinheiros unem-se às deusas amorosas, que os recompensam,
já que "As mãos alvas lhe(s) davam como esposas" e "
Divinos os fizeram, sendo humanos". O poeta explica que esta
ilha "Outra cousa não é que as deleitosas / Honras que a vida
fazem sublimada”. O mito da Ilha dos
Amores surge, então, como algo que, de facto, não existe, mas que funciona
ao nível do inconsciente coletivo, como a realização dos desejos humanos
associados ao ideal de uma recompensa merecida, pois o mérito é real.
Finalmente,
a viagem, mais do que a exploração dos mares, é a passagem do desconhecido para
o conhecido, conseguida pelo esforço e motivada pelo amor, tendo como resultado
a posse do conhecimento. E os heróis são, assim, mitificados.
Aspetos simbólicos no "Memorial do Convento"
Universo Simbólico no
Memorial do Convento
A História de Manuel
Milho
A
história, que Manuel Milho vai contando, durante os vários dias que dura o
transporte da pedra Benedictione, é
uma reflexão sobre a existência humana e mostra que, no fundo, o mais importante
é o ser humano e a sua essência. Manuel Milho narra a história de uma rainha
que gostaria de ser mulher para conseguir decidir se, na verdade, queria ser ou
não rainha, e de um ermitão que queria ser homem. Ambos desejavam não ser o que
eram, mas ser apenas um homem e uma mulher. Esta história mostra que cada um é
aquilo que as condições sociais e as circunstâncias permitem que o seja
(capítulo XIX).
Três
Representa
a ordem espiritual e intelectual, é o número perfeito, a expressão da
totalidade. Para o cristianismo, os três elementos da trindade são o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, um só Deus em três pessoas, tal como Baltasar,
Blimunda e Bartolomeu Lourenço que constituem a Trindade Terrestre, três
pessoas em perfeita comunhão que alcançam um poder divino e uno.
Quatro
Número
ligado ao quadrado e à cruz, significa o sólido, a totalidade, mas uma
totalidade perecível. Curiosamente, Domenico Scarlatti será o quarto elemento
de um conjunto de pessoas que concretizam a audaciosa missão de voar. Ele
parece ser o elemento que completa esse todo, elemento esse, imprescindível à
plena realização desse projeto. No entanto, esse sonho, irá desfazer-se, será
findável.
Sete
Muito
referido na Bíblia, surge recorrentemente na obra, sete são os homens que vêm
trabalhar para Mafra no convento, oriundos de sete regiões do país; sete bispos
batizam a infanta; sete vezes Blimunda vai a Lisboa à procura de Baltasar e o
número sete repete-se na data da bênção da primeira pedra do convento – 17 de
novembro de 1771. O sete é o resultado do número perfeito, o três e, do número
da totalidade, o quatro e, representa a totalidade do espaço e do tempo, do
universo em movimento.
Nove
Número
da procura, da gestação, simboliza o coroar do esforço, o fim de um ato
criativo, o fim de um período de busca frutuosa, como acontece com Blimunda
que, durante nove anos, procurou o seu amado. Após a separação, Blimunda
reencontra Baltasar e, recolhendo a sua vontade, une-se àquele que ama. Esta
união representa a vitória do poder do amor.
A passarola
Funciona
como o elo de ligação entre a terra e o céu, e surge, na obra, metaforicamente,
referida como uma ave, o que remete,
de imediato, para o voo das aves. O
sonho de voar conota a ousadia e a conquista, mas pode ter um lado negativo: a
queda, a desilusão.
O ovo
A
máquina inventada pelo padre Bartolomeu aparece também designada por ovo, elemento que simboliza a origem, o
nascimento. Como que protegido de qualquer ameaça, o casal vive no seu interior
momentos de amor intenso. O ovo pode ser interpretado simultaneamente como um
espaço de segurança e como a renovação constante do amor.
Convento
Símbolo
do definitivo, do imutável, do eterno e, nesse sentido, opõe-se à passarola. É
evidente o contraste entre o caráter libertador do projeto de Bartolomeu de
Gusmão, que evidencia a atitude criadora do homem e a capacidade de vencer
barreiras quando trabalha em conjunto, e a natureza opressora da promessa do
rei, que espelha uma vontade egoísta e megalómana.
Os olhos/O olhar
Ocupam
um espaço privilegiado devido ao poder visionário de Blimunda. O seu olhar
mágico seduz Baltasar e será muitas vezes uma forma de comunicação entre o
casal.
Espigão
O
espigão de Baltasar de que Blimunda se serve para se defender, no Monte Junto,
da tentativa de violação, presentifica o próprio Baltasar. É, como se, na sua
ausência, tivesse ficado para salvar Blimunda a “mão” do seu amor.
Mutilação de Baltasar
Aparece
frequentemente como uma marca de inaptidão e de marginalidade, todavia, na
obra, Baltasar conseguirá superar a sua incapacidade ao contribuir para
construir a passarola e o convento.
Sonho
É
o espaço onde as personagens deixam transparecer as suas emoções, medos,
frustrações, desejos, funcionando, por vezes, como um fator de equilíbrio, como
é o caso da rainha, que compensa, no mundo onírico, as suas frustrações
afetivas e sexuais. Em relação ao rei, os sonhos espelham, acima de tudo, a
manifestação do seu poder. Os sonhos comuns de Baltasar, Blimunda e Bartolomeu
são uma forma de sublinhar a sua cumplicidade e partilha.
Música
Simboliza
a harmonia e a plenitude do cosmos. A música de Scarlatti representa a
comunicação e tem o poder de curar. O som do seu cravo irá fascinar o padre e
acompanhar o processo de construção da passarola e o momento em que ela se
eleva no céu.
Pedra/A mãe pedra
Símbolo
da Terra-Mãe exige um esforço enorme por parte dos trabalhadores que, com
coragem, força, habilidade e inteligência e vão transportar de Pero-Pinheiro
até Mafra. É uma laje descomunal que evidencia a pequenez do homem, mas que
comparativamente ao convento se torna pequena. Conseguir transportar a pedra
até ao seu destino, vai transformar estes homens em verdadeiros heróis. A
pedra, pela sua firmeza, também se pode associar à sabedoria.
Abegoaria
É
o espaço escondido onde se constrói a passarola, onde se materializa o sonho. É
o espaço da utopia, da invenção, da descoberta, da partilha e da amizade.
Sangue
Símbolo
de vida.
Montanha (Monte
Junto)
Estabelece
a relação da terra com o céu, centro do mundo, traduz a estabilidade e a
inalterabilidade, guardando o que nela permanece, como a passarola que cai no
Monte Junto. A máquina voadora ficou protegida dos homens e do Santo Ofício e,
assim, mais tarde, inusitadamente e, como por magia, levantou voo, dando
sentido à vida da trindade terrestre.
Fogo
É
conforto, aconchego, purificação e regeneração, mas também destruição. O fogo
da lareira, em casa de Blimunda, é proteção e bem-estar; o fogo que Bartolomeu
Lourenço lança à sua máquina é uma forma de destruir o seu sonho fracassado; o
da fogueira dos autos de fé é opressão, destruição e morte.
Sete-Sóis e Sete-Luas
Os
nomes de Baltasar e de Blimunda têm o mesmo número de letras, começam por B e
as alcunhas deles são uma forma de mostrar a sua complementaridade. Baltasar
está relacionado com o Sol, fonte de luz, de calor e de vida, enquanto Blimunda
surge relacionada com a lua, símbolo da dependência, da periodicidade e da
renovação. A lua marca o ritmo biológico da mulher e o seu poder está, na
verdade, dependente das fases da lua. A vida dela necessita da presença de
Baltasar, mas o contrário também é verdadeiro, o que dá uma nova perspetiva a
esta correlação. Os dois formam um só ser, como se as particularidades/defeitos
de um fossem colmatadas pelo outro.
Estas
alcunhas aparecem associadas ao número sete que representa perfeição que, no
caso, apenas se atinge em conjunto. Eles são perfeitos porque se amam e se
entregam sem reservas a esse amor.
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